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Bernardo, Bernardo, Bernardo e os réus

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Por Airton Gontow

 

Bernardo: assassinado cruelmente
Bernardo: assassinado cruelmente

No mesmo dia – 11 de março – em que começou o julgamento dos quatro acusados pelo assassinato de Bernardo Boldrini, guri de 11 anos, morto há cinco no Rio Grande do Sul, Bernardo Oliveira Lopes, um bebê de um ano e dois meses, morreu em Embu das Artes, na Grande São Paulo, durante o temporal que desabou sobre a região.

 

Pelo assassinato de Bernardo Boldrini estão sendo julgados quatro réus: o médico Leandro Boldrini, pai do menino; a madrasta Graciele Ugulini; e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz. O menino sumiu de Três Passos, pequena cidade de 23,9 mil habitantes, onde morava, no dia 4 de abril de 2014. Foi encontrado após dez dias, a 80 km, enterrado em um matagal, à beira de um riacho, em Frederico Westphalen.

 

Segundo a perícia, a morte foi causada pela superdosagem de um sedativo, aplicado por Graciele com a ajuda de Edelvânia, cujo irmão teria ajudado a enterrar o corpo. De acordo com o Ministério Público, foi Leandro que planejou fria e cruelmente o crime, para não dividir a herança deixada pela mãe de Bernardo, que se suicidou em 2010.

 

Quem será julgado pela morte de Bernardo Oliveira Lopes, que também foi encontrado soterrado?

 

Estavam juntos no pequeno quarto da casa sem número da rua Caqui, no Jardim Pinheirinho, em que viviam há apenas um mês, a mãe, Karine Santos Oliveira Lopes, de 28 anos; e o pai, Mike Lopes Alves, de 29 anos.  O bebê dormia como um anjinho após ter mamado. Karine não conseguia dormir. Chegou a zanzar pela casa, preocupada com o temporal e o vento forte. Eram 4h30 da manhã. O pai fazia hora, acariciando o bebê, antes de levantar para ir ao trabalho. Foi quando ouviram um estrondo e seu mundo começou a desabar. Rapidamente, o neném estava soterrado. Os pais, parentes e vizinhos tentaram salvar Bernardo. Desesperados, cavaram, cavaram e cavaram. Primeiro com as mãos. Depois com uma pá e com uma enxada. Até que o irmão de Karine viu um pezinho. Imóvel no meio dos destroços.

Karine, Mike e Bernardo
Karine, Mike e o filho Bernardo, que foi soterrado enquanto dormia.

 

Segundo a tia, Monike Alves Lopes, de 26 anos, o pequeno Bernardo foi levado já sem vida para o Hospital Geral de Itapecerica da Serra. Ainda de acordo com a tia, os outros dois filhos do casal, Pedro, de 10 anos, e Clara, de oito, também estavam na casa, mas escaparam ilesos, do ponto de vista físico, do deslizamento de terra.

 

 

A Prefeitura de Embu das Artes lamentou em nota oficial o ocorrido e disse que a que a família estava em uma ocupação irregular.

 

Ainda assim, repito a pergunta: quem será julgado pela falta de infraestrutura, investimentos, fiscalização e atitude que causam tantas mortes, especialmente entre as populações desassistidas, em nosso País?

 

Crimes como o assassinato de Bernardo Boldrini chocam o Brasil pela possibilidade “rara” e monstruosa – que o júri avaliará – de que a morte do menino tenha sido planejada pelo próprio pai.

 

Bernardo Pisetta: morte no Ninho.

Também chocaram o País a morte do goleiro Bernardo Pisetta, natural de Indaial, em Santa Catarina, e de outros nove atletas da base do time do Flamengo, no incêndio do Ninho do Urubu, no dia 8 de fevereiro; e a morte já confirmada de 200 pessoas, além de 108 desaparecidos, no desastre da Vale, causado pelo rompimento, no dia 25 de janeiro, da Barragem do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais.

 

Procurei por algum Bernardo nas listas de mortos e desaparecidos de Brumadinho. Não havia. São 308 nomes, alguns repetidos, mas cada um deles com histórias únicas de vida e de ausência. A coincidência do nome Bernardo nas tragédias citadas é exatamente isso: apenas coincidência. O que não é coincidência são os erros, incompetência e descaso de empresários e autoridades em relação ao que há de mais valioso e importante em nosso País: o cidadão!

 

Não podemos achar que são normais ou deixar de nos indignar com as tragédias nossas de cada dia, aquelas que há décadas ferem e matam milhares de pessoas.

 

No dia 11 de março de 2019, somente em São Paulo 12 brasileiros, entre eles o bebê Bernardo Oliveira Lopes, que dormia como um anjinho e que nunca chegou ou chegará a pronunciar o próprio nome, morreram nos desabamentos e enchentes durante os fortes temporais.

 

Quando os culpados serão julgados?

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