Foi bacana ver os painéis em Led unindo-se em várias configurações para mostrar imagens marcantes da Copa. Foi solene ver Philipp Lahm, capitão da equipe campeã do mundo na Copa de 2014, no Brasil, ingressar com a taça no gramado, ao lado da famosa modelo russa Natalia Vodianova. Interessante assistir ao – confesso – até então para mim desconhecido cantor norte-americano Nicky Jam, principalmente quando recebeu a cantora albanesa Era Istrefi e o ator e rapper Will Smith, também dos EUA, para cantarem juntos “Live it up”, o tema da Copa. Instigante ver a apresentação da soprano russa Aida Garifulina, em especial quando surgiu Ronaldinho Gaúcho, alegre e descontraído, tocando um instrumento de percussão ao lado de diversos dançarinos.
Mas, convenhamos, a organização do evento e a Fifa pisaram feio na bola. Sobrou alegria, mas faltou emoção! Há uma distância olímpica, não de anos, mas de sensibilidade, entre as lágrimas do ursinho Misha no Encerramento dos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, no então Estádio Central Lênin, e a cerimônia do domingo, no agora, após ampla reforma, estádio Lujniki. Claro que as Festas de Abertura e Encerramento de Jogos Olímpicos são, sempre, muito maiores e mais impactantes que em Copas do Mundo, mas mesmo assim faltou o principal.
Existiram muitos momentos especiais e marcantes durante a Copa do Mundo da Rússia. Como esquecer do gol de falta de Cristiano Ronaldo, seu terceiro, no empate conquistado ao final da partida contra a Espanha, quando parecia que finalmente o craque português faria uma boa Copa do Mundo?
E o gol aparentemente redentor da Alemanha contra a Suécia, no último minuto dos acréscimos? Os gols da Coréia do Sul que mandaram os até então campeões do mundo de volta para casa! A grande atuação japonesa contra a Bélgica, que reagiu, empatou e fez o gol derradeiro, avançando no torneio e eliminando os japoneses, também no fim dos acréscimos, aos 49 da segunda etapa, em um de seus muitos estupendos contra-ataques realizados durante a competição!
Os cantos da torcida islandesa! A fidelidade dos hermanos argentinos, recompensada na reação contra a Nigéria! O gol de gênio de Messi, que novamente não fez uma grande Copa, mas em um único lance demostrou todo seu talento! A torcida peruana! A torcida mexicana! A torcida colombina! Os shows da torcida brasileira na entrada dos estádios, no metrô e cantando à capela o hino nacional! A grande e coletiva festa russa após a surpreendente classificação contra a Espanha.
O choro do craque James Rodríguez, o artilheiro da Copa passada, com a eliminação em um jogo em que não pode atuar, contundido, logo após sua exuberante atuação contra a Polônia, aliás, pouco lembrada pela mídia.
Foram muitos momentos especiais! Como foi comovente e bonito de ver o talento e a garra da Croácia, que superou três prorrogações seguidas! O que falar da alegria contida de Griezmann após o gol sobre o Uruguai, seleção de muitos de seus grandes companheiros no futebol? Lembraremos para sempre do “menino” Mbappé, com sua arte em estado puro, exemplificada no elegante e encantador passe de calcanhar para Giroud, contra a Bélgica, e assim como de suas espantosas arrancadas à Usain Bolt (deixando claro para o velocista que sonha em ser jogador de futebol, que é mais fácil ele, Mbappé, se tornar um corredor de ponta)!
Como não lembrar – e essa para mim é a lembrança mais encantadora – do gol de Baloy, o primeiro marcado pelo Panamá em uma Copa, e da incrível explosão de alegria de atletas e torcedores, mesmo que a equipe tivesse perdendo por 6 a 1? “Um gol!, Fizemos um gol!” Alegria que nos fez chorar de emoção!
Viva o futebol!
Viva o esporte!
Viva a vida!
Sim, viva a vida! Nada nos comoveu tanto durante a Copa do Mundo quanto um drama fora das quatro linhas, fora do campo de jogo: o drama dos 12 meninos de 11 a 16 anos e de seu treinador, de 25 anos, do time de futebol na Tailândia, presos em uma caverna.
E é justamente aí que se encontra o grande erro da Festa de Encerramento.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, deu, com perdão do trocadilho óbvio, um show de demagogia “infantiloide”, ao convidar os meninos e o técnico para assistirem à final da Copa. Seria obviamente impossível, mesmo em caso de êxito total da operação. Mas não dá para entender a ausência de qualquer menção durante toda a cerimônia ao fato pelo qual todos nós, pessoas de todos os países, raças e religiões, torcemos ansiosamente por um final feliz.
Custava ter as fotos dos meninos nos painéis espalhados pelas “arquibancadas” dos estádios? Era tão difícil assim confeccionar uma grande bandeira da Tailândia para entrar em campo? Ou treinar o hino tailandês para ser tocado e reverenciado por todos, antes dos hinos oficiais da França e Espanha? Ou, além dos prêmios de Bola de Ouro (Modric), Revelação (Mbappé), Chuteira de Ouro (Harry Kane), Luvas de Ouro (Courtois) e Fair Play (Espanha), dar uma medalha de “Time mais Corajoso” aos bravos e jovens atletas? Ou, após a partida, dar uma medalha de Honra ao Mérito ao heroico mergulhador Saman Kunan, navegador aposentado da marinha tailandesa, que deu sua vida para salvar as crianças?
No início da nossa história como sociedade nós, seres humanos, passávamos juntos e assustados as noites dentro de cavernas. Há poucas décadas, o cosmonauta russo Yuri Alekseievitch Gagarin foi o primeiro homem a conquistar o espaço. No dia 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok 1, mesmo em meio à corrida armamentista, Gagarin deu a todos nós uma mensagem bela e de esperança que mostrou que mesmo com todas as diferenças vivemos em uma mesma casa: “A Terra é Azul”!
O drama dos Javalis Selvagem acendeu, como o fogo no interior das cavernas, uma pequena chama de solidariedade. Sim, em muitos momentos ainda somos seres assustados diante do futuro escuro e incerto, mas capazes de sobreviver, de nos comover por aqueles que não são necessariamente do nosso time, de trabalhar em conjunto e de celebrar a vida.
A Terra é azul!
A Terra é redonda!
Faltou ontem o mundo da bola homenagear o time mais vencedor do último mês em todo o futebol mundial.
Ainda somos humanos e civilizados e, por isso, Javalis Selvagens.
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Airton Gontow é jornalista, cronista e diretor do site de relacionamento Coroa Metade.
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